terça-feira, 10 de junho de 2008

DA SÉRIE : TEXTIL

4 NOTAS DE R$ 10,00

Estavam numa carteira. Marly, Cleide, Gomes e Celso. (Vamos supor q as notas tenham nome - se tivessem)
Marly era novinha, tinha acabado de sair da gráfica oficial do país, cheirinho de tinta, único dono. Saiu do banco, veio pra carteira. Carteira é meio a casa das notas de dinheiro, é o lugar pra onde elas gostam de voltar, mas na verdade, vários outros locais servem de moradia pro dindin, até cueca, já serviu de abrigo durante uma viagem.
Alguns viajam muito, q nem o Gomes, foi impresso há cerca de 4 anos, morou em banco, em casa de família, cofrinho de criança, foi pra carteira de madame e de lá, saiu pra favela, porém parou no ônibus, voltou pro banco, na bolsa da caixa do banco, onde ficou por uns quinze dias, indo e vindo, depois, foi pra loja de sapato, de lá pro Rio, Brasília e Recife, onde permaneceu dois anos de mão em mão. Passou calor no bolso do trabalhador e já teve frio, quando caiu no chão e dormiu na garoinha fina de São Paulo. O Gomes estava meio sujo, amassado, já tinha sido dobrado de várias maneiras.
Certas notas são solitárias, a Cleide, por exemplo, ficou quase um ano no bolso de um casaco grosso de inverno, dentro de um guarda-roupa, sozinha, não tinha nem uma moedinha junto pra fazer companhia. As notas conversam entre si - se fosse. O armário tinha um cheiro bom, de perfume, ela gostava do cheiro do armário, mas achava ruim o silêncio. Todos os dias a dona do casaco abria o armário, olhava as roupas, chegava muitas vezes a tocar no casaco onde Cleide morava, mas era realmente muito grosso, e muito chique pra sair toda-hora. Cleide percebeu que chegou o inverno de novo, casacos começaram a sair do armário, chegaria sua vez. O dia mais frio do ano foi o escolhido pra libertar Cleide, ela saiu com o casaco, ou o casaco saiu com ela, a mão da dona do foi ao bolso, pagou um cafézinho, mas qdo foi do cafézinho pra uma bolsa, acabou passando mais 6 meses sozinha, não mais no casaco, e sim na bolsa, pendurada num gancho, sozinha. Dessa vez acostumou com o silêncio, e gostou. Cleide não queria falar, mas o Celso, não parava de puxar papo.
Esse tinha história pra contar, dizia q trazia sorte, era uma daquelas notas q tem uma oração escrita, tipo agradeço a santo expedito. *
Onde caía, atraía mais notas, que faziam companhia, e ouvia várias histórias, e passava a noite em claro, até em tanga de rapariga já passou a noite. Gostava de ver seus portadores viver, e contava suas histórias pra outras notas. Também era meio amassadão, tinha até perdido um pedacinho do canto superior esquerdo, qdo ficou preso num clips velho. Nota de dez reais passeia bastante, menos que as de 1, e muito mais que as de cem.
Tavam lá as 4, na carteira, tiveram q se separar, Marly foi pra manicure, Gomes pra locadora, Cleide, caiu na hora q saíram as outtras e acabou ficando entre as páginas de um livro onde deve ficar pra sempre, mas Celso, esse foi fazer o q Celso faz melhor, trazer sorte, pagou a aposta do jogo de loteria.


(foto disponível em formato para impressão, caso vc tenha papel moeda)


(Inspirado em Toy Story)

* N.A.(aliás, faz tempo q não vejo notas assim, os bancos devem tirá-las de circulação rapidamente, ou, com as correntes de internet, as correntes escritas em dinheiro perderam a graça)

Nenhum comentário:

Postar um comentário